O dia acorda cinzento, zangado com a noite e os seus delírios galácticos.
Ele tinha todas as razões para reflectir uma carga indesejável ao mais comum mortal. E assim foi: vento, chuva, trovoada e até, imagine-se, sapos a cair do céu. Provocou cortes na luz falsa, nas comunicações desnecessárias, na água poluída – para já, nada a lamentar – e para os mais sensíveis promoveu cortes no coração – isto é que não.
Um dos afectados fui eu, acusava a cor, o clima, os vizinhos, os amigos, os pseudos, os eventuais, os de curto prazo... Acontece que provavelmente as razões serão outras: não quero assumir que a causa de tudo – do nada – é A INEVITABILIDADE DA PREVISIBILIDADE INDESEJADA. Nesta cabe, ente outras coisas, o sentimento de que o AMOR NÃO EXISTE E A INJUSTIÇA IMPERA: como é possível?!
Nem danças oníricas, nem terapias divanescas, ou mesmo espirros intelectuais que optimizam níveis perceptivos. O CORAÇÃO ESPONJADO PETRIFICOU.
Ruben 2005
1 comentário:
INCOMPLETO
As palavras que me dizias com sabor a mel…
Os sentimentos transparentes, cheios de emoção…
A tua presença na tua ausência…
O teu ser que me ofuscou…
A tua vida que era a minha…
O teu olhar de amor e ódio…
A tua mente encruzilhada…
A tua alma a divagar…
O teu amor inócuo…
O teu corpo imaculado…
O perfume que libertavas…
O silencio das tuas palavras…
O teu sorriso de criança…
Fomos um só…mas…
Acabou!...
O tormento da dor que não se sente… silenciosa… veio devagar, e abraçou-me!
Deixei de pensar…
Deixei de sonhar…
Deixei de amar…
Deixei de existir…
Deixei de sentir…
Sou um ser irracional a interpretar uma personagem racional...
Sou o destino que a vida me deu…
Estou incompleto!...
Estou num deserto sem areia…
Num mar sem agua…
Numa floresta sem arvores…
Num fogo sem chamas…
Sou incompleto!...
Sou o peixe que não nada…
A águia que não voa…
O lobo que não uiva…
O leão que não ruge…
Fico incompleto!...
Tenho o que não quero
Faço o que não sei
Digo o que não sinto
Pareço o que não sou
Vivo incompleto!...
Tenho medo do meu sofrimento…
Tenho medo de ti…
Faz de mim o teu escravo… e tortura-me!...
Ou…
Faz-me sentir forte… e deixa-me viver!…
Deixa-me ser o que sou… neste mundo que não existe...
Ou então… prefiro nascer novamente… e ter uma vida nova… sem passado, sem presente, e sem futuro.
Viver por viver…sem alma…eternamente, como se nunca morrêssemos…
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