sábado, novembro 19, 2011

A divisão sábia

"Um pastor morreu. Possuía 17 camelos e 3 filhos.

Quando o seu testamento foi aberto, dizia que a metado dos camelos seria do filho mais velho, um terço seria do segundo e um nono do terceiro. O que fazer?

Eram dezassete e a metade seria dada ao mais velho. Então um dos animais deveria ser cortado ao meio? Não iria dar certo, porque um terço deveria ser dado ao segundo filho. E a nona parte ao terceiro. É claro que os filhos correram em busca do homem mais erudito da cidade, o estudioso, o matemático. Ele raciocionou muito e não conseguiu encontrar a solução.

- Matemática é matemática.

Mas alguém sugeriu:

- É melhor procurarem alguém que saiba sobre camelos ao invés de matemática.

E foram então ao Sheik da cidade, um homem bastante idoso, inculto, porém sábio pela sua experiência. Contaram-lhe o problema. O velho riu e disse:

- É muito simples, não se preocupem.

Emprestou um dos seus camelos - eram agora 18 - e depois fez a divisão. Nove foram dados ao primeiro filho, que ficou satisfeito. Ao segundo coube a terça parte - seis camelos, e ao terceiro filho, foram dados dois camelos - a nona parte.

Sobrou um camelo: o que foi emprestado! O velho então pegou seu camelo de volta e disse:

- Agora podem ir."

segunda-feira, julho 02, 2007

Um lugar ao lado do coração

Trouxe para cima o que era preciso vertebrar, e o lugar lavou-se por dentro, e eu ardia-me no outro lado.
Desci até à doença de chumbo, o que eu pensava ser outra coisa, uma mensagem que chamaste relação, e lutei.
Nunca existiu.
Acabou-se o metal, o branco, o chumbo, o amor, e reexiste nele um outro mais perigoso.
- Sabes quanto tempo eu amei?
- Porque te preocupas com o tempo se a vida parece sempre pequena? Não, não sei.
- Amei-te com mais tempo do que o que eu tinha para viver. Parece-te dramático? Eu sei. Nunca soube ser outro. Quando não beijamos habituamo-nos a morder.
- Não consigo amar-te assim, e às vezes penso que nunca o conseguirei vivê-lo, no entanto...
- Seria bom que entendêssemos o abismo. Não tenho mais tempo para a felicidade ordenada.
Sabes, as pessoas acreditam que amam porque não se atrevem a pensar a morte. Canso-te? - Não.
- Está na hora de me ir embora.

- Amei-te porque decidi morrer.

Paulo Damião

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Quem morre?

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções - justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite, pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe. Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estado esplêndido e felicidade.

Pablo Neruda

quinta-feira, setembro 07, 2006

Saudade



"A verdadeira saudade é aquela que já sentimos quando ainda temos ou estamos..."

Ana

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

sexta-feira, janeiro 20, 2006

A Paula Alves: Caim e Abel no Lago

Caim e Abel pararam à beira do imenso lago. Jamais tinham visto algo semelhante.


- Existe alguém aí dentro – disse Abel, sem entender que estava a ver apenas o reflexo na água.

Caim reparou na mesma coisa, e levantou o seu bastão. A imagem fez o mesmo. Caim ficou ficou a aguardar o golpe; a sua imagem também.

Abel contemplava a superfície da água. Sorriu, e a imagem sorriu. Deu uma boa gargalhada, e viu que o outro o imitava.

Quando saíram dali, Caim pensava: “Como são agressivos os seres que vivem naquele lugar.” E Abel dizia para si mesmo: “Quero voltar lá, porque encontrei alguém bonito e com bom humor.”

Paulo Coelho

terça-feira, janeiro 03, 2006

Do mar


Póvoa de Varzim - Portugal

sexta-feira, dezembro 30, 2005

O Palhaço

Era uma vez um palhaço
que vivia no seu mundo:
o circo e a sua gente.
Tinha nervos, tinha sangue,
tinha tudo...tinha filhos,
tinha sonhos e desejos
e bondade natural.
Mas um dia este palhaço,
esmagado pela dor
com a morte da mulher,
já não ria como dantes,
fora do circo e do mundo,
embora fosse palhaço
logo à noite, outra vez.
E ria, ria por fora
e ria de tal maneira
que toda a gente sorria.
Só eu, porque sabia,
não ria...antes pensava
na luta daquela alma
feita de força e de crença
à espera do momento
de voltar ao camarim.
Vão surgindo os aplausos,
com palmas de toda a gente,
e o palhaço no seu posto,
a cumprir o seu destino,
sorri, sorri novamente
embora eu lhe notasse
que chorava lá por dentro.

Mas cumpriu a sua missão
fazendo rir toda a gente
ao tomar a posição
de fingir completamente

Era um palhaço perfeito
e tinha uma cicatriz
do lado esquerdo do peito,
feita no circo, em petiz.

Seu pai fora palhaço,
sua mãe equilibrista,
seu filho será palhaço
ou talvez malabarista.

António Baptista

segunda-feira, dezembro 26, 2005

terça-feira, dezembro 20, 2005

Canetas e Folhas

Uma folha em branco é como eu…
Um papel sem dono que pode ser escrito por todos…
Pode formar palavras…pode fazer sorrir…pode fazer chorar…
Pode levar a amar…pode fazer esquecer…
Pode ser reescrito por quem quiser levantar a caneta…
Mas por vezes esse papel fica gasto…
Gasto de tanto ser escrito e reescrito…
Nessas alturas torna-se apenas um pedaço de papel amarrotado sem vida…
Já fui de muitas cores e inclusive já fui reciclado…
Já ensinei crianças a escrever…
Já fui alvo de batalhas sentimentais…
Já fui o sonho de uma adolescente no seu primeiro amor…
Dentro de um pedaço igual a tantos outros já fui especial para alguém…
Já choraste com as palavras que escreveram em mim…mas nunca te lembraste que talvez tenha sido eu a reinventar essas letras…
Um dia enganei-te….
Troquei as palavras que tinhas escrito e fiz delas poemas de paixão, de loucura, de insanidade verbal…
Ficaste confuso e tentei explicar-te que tudo é reinventado a cada milésimo de segundo…
Expliquei-te que se tentares podes escrever uma nova história com capítulos de vida…com passagens de verdade…
Mas tu não quiseste entender ou simplesmente não quiseste saber…
Então escrevi eu…
Escrevi outra versão daquela história que podia ter sido a história da nossa vida…e passou a ser apenas uma história….
Mudei de página…de cor…de caligrafia …de caneta…
Troquei-te por aquela caneta de tinta permanente, que todos querem ter mas não sabem aonde se encontra…
Encontrei-a….
É agora minha….e tenho a certeza que tal como a tinta que não se esgota, a minha folha vai dar novas folhas, novos capítulos, diferentes versões…que um dia serão livros…
Talvez um dia abras esse livro…escrito pela caneta de tinta permanente e entendas…
Foi tua…foi minha…foi nossa…Mas…foi escrever uma nova historia!
Pérola

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Porque sim II

Um homem sábio pode considerar a vida uma comédia, uma tragédia ou uma farsa, e ainda assim aproveitá-la.

Harry Emerson Fosdick

sábado, dezembro 10, 2005

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Amigo

Ter um amigo é maravilhoso.
Ser amigo de alguém ainda é melhor.
É como acordar e sentir o sol a brilhar.
Um amigo é alguém com quem se está bem.
Mas um amigo é muito mais do que isso!
É alguém que pensa em ti quando não estás aqui.
Alguém que bate com os dedos na madeira
quando tu tens de fazer coisas difíceis.
Nunca se realmente só quando se em um amigo.
Um amigo ouve o que tu dizes
e tenta compreender o que não sabes dizer.
Mas um amigo não está sempre de acordo contigo.
Um amigo contradiz-te
e obriga-te a pensar honestamente.
Um amigo gosta de ti mesmo que tenhas um fracasso.
Um amigo ensina-te a gostar de coisas novas.
Não terias imaginado essas coisas se estivesses sozinho.
Amigo é uma palavra bonita,
é quase a melhor palavra!
Um amigo é alguém que tem sempre para ti
quando apareces.
Toda a gente pode ter um amigo.
Mas não vivas tão apressado que nem vejas
que há alguém que quer ser teu amigo.
Um amigo é alguém que é para ti uma festa.
Alguém que pensa em ti e te ouve
e te ajuda a saber quem és.
Alguém que te ajuda a descobrir as coisas.
Alguém que está contigo e não tem pressas.
Alguém em quem tu podes acreditar!

Quem é o teu amigo?

Autor: A identificar

quinta-feira, dezembro 01, 2005

terça-feira, novembro 29, 2005

Tu

Quando sem receio se aproxima a vaga que da noite escura retirou abrigo, encolho os ombros e sobranceiramente procuro refúgio das tormentas que criaste. São rochas intransponíveis que crias sem saber dos amargos de boca, são trapos rasgados que a imaginação não se atreve a deslindar. Papeis queimados que não lemos, antes nos sujam as mãos em tons de negro triste. E quando as lágrimas derramadas nos lembram o que fomos não basta a vastidão ingénua dos nossos sonhos para romper com o cordão que nos prende. Sem perdão chamo o teu nome, gritando até ao limite. Grito e grito mais algo, mas não me ouves. Enquanto o ecoar das tuas dúvidas se perpetuar pelas veias do teu corpo cada pedaço de mim desfalece por entre mortes sagradas. Mais que o desejo, mais que o medo, mais que todos os demónios que povoam a insanidade do nosso ser, mais que o sentido nefasto do cheiro que em mim deixaste quero-te.

Falco

segunda-feira, novembro 28, 2005

sábado, novembro 26, 2005

Danko Jones - Blood



Agressivo e directo!! Este álbum é puro rock!!

Vasco 2005

sexta-feira, novembro 25, 2005

Paladares



Entranhado na encosta de Brufe - Terras de Bouro - espreita sem complexos a beleza do Portugal que o Homem ainda não destruiu.

Acresce, o irresistível prazer do paladar.

Vasco 2005

Procurei-te


Braga - Portugal

quarta-feira, novembro 23, 2005

Ferido

O dia acorda cinzento, zangado com a noite e os seus delírios galácticos.

Ele tinha todas as razões para reflectir uma carga indesejável ao mais comum mortal. E assim foi: vento, chuva, trovoada e até, imagine-se, sapos a cair do céu. Provocou cortes na luz falsa, nas comunicações desnecessárias, na água poluída – para já, nada a lamentar – e para os mais sensíveis promoveu cortes no coração – isto é que não.

Um dos afectados fui eu, acusava a cor, o clima, os vizinhos, os amigos, os pseudos, os eventuais, os de curto prazo... Acontece que provavelmente as razões serão outras: não quero assumir que a causa de tudo – do nada – é A INEVITABILIDADE DA PREVISIBILIDADE INDESEJADA. Nesta cabe, ente outras coisas, o sentimento de que o AMOR NÃO EXISTE E A INJUSTIÇA IMPERA: como é possível?!

Nem danças oníricas, nem terapias divanescas, ou mesmo espirros intelectuais que optimizam níveis perceptivos. O CORAÇÃO ESPONJADO PETRIFICOU.

Ruben 2005

terça-feira, novembro 22, 2005

A TI…

Encontrei-te por sentimentos recíprocos…
Encontrei-te pelo sentido sem sentido…
Encontrei-te no nada do tudo…
Percebi que em ti habitava um ser igual ao meu…
Entendi que as tuas imagens eram as minhas palavras….
Compreendi que jamais vais deixar de voar….
Tens umas asas do tamanho do universo…mas tens medo de abraçar o mundo…
Tens o dom na sensibilidade…
Tens a magia de saber que dentro de ti…és tu…apesar de todos…
As tuas imagens são a compreensão de sonhos perdidos mas nunca esquecidos…
Contei-te verdades que só são minhas e entendeste-as como quem conta uma história de encantar…
Tiraste cada palavra de mim e sugaste-as com fervor…ânsia de mais e mais…
Nunca vai ser demais porque quem entende…compreende…e …sente…
Tu sentes dentro de ti o que vejo dentro de mim….
Tu vês dentro de ti…o que sinto dentro de mim…

Obrigado deuses…por ti…

Pérola 2005

domingo, novembro 20, 2005

sábado, novembro 19, 2005

do amor

vós todos, que servis de alimento a qualquer milhafre insaciável;

- vós, poetas hoffmanianos que dançais ao som de harmónios nas regiões de cristal ou que um violino despedaça, tal como uma lâmpada nos rasga o peito;

- vós, contemplativos vorazes e exigentes a quem mesmo o espectáculo da natureza comunica êxtases perigosíssimos: que para vós o amor seja um calmante.

e vós, poetas tranquilos - poetas objectivos -, partidários ilustres do método -, arquitectos do estilo-, políticos que tendes uma tarefa de que dar conta todos os dias: que o amor seja para vós um excitante, uma bebida tonificante e tónica, e que a ginástica do prazer seja para vós um constante incitamento à acção.

para uns as poções repousantes, para os outros os álcoois.

mas para vós, vós para quem a natureza é cruel e o tempo precioso, que o amor seja para vós um revigorante que vos aqueça e reanime.

Beaudelaire

quinta-feira, novembro 17, 2005

Gipsy Project & Friends



Quando a raça Gipsy nómada se traduz em musica.

Vasco 2005

quarta-feira, novembro 16, 2005

terça-feira, novembro 15, 2005

Sou o que sou.

Sou uma pessoa estupidamente normal: não tenho comportamentos obsessivo-compulsivos, gosto moderadamente de ultrapassar os limites, não sou viciado na internet, em sexo, em álcool, em cocaína, em coleccionismo, em compras, em terapias, em tabaco, ou psicotrópicos; sou um dependente afectivo moderado e não observo rigorosamente as indicações do médico. Pronto! Sou o que sou.

domingo, novembro 13, 2005

É o fim...

o som rasgado dos movimentos lentos
o tom castanho que toca no rosto
a beleza afónica de quem sente
o mar, sentido no cheiro

noites passadas sem te ver
o cheiro que não sinto, nem finjo
um corpo que se perde na cama
o teu suor, as tuas lágrimas

a espera é longa e triste
como um desejo por curar
como um relógio que perece
em silêncios contidos

é o fim....silêncioso na forma

Falco
Porto, 1996

sábado, novembro 12, 2005

Harmonia


Estádio Municipal de Braga - Portugal

sexta-feira, novembro 11, 2005

Ecuménico

Um budista, um hindu e um padre católico participam num encontro religioso. O budista fala sobre o caminho para a luz, o domínio do desejo e todos na sala aplaudem e dizem: «Se isso é bom para ti, óptimo, pá!» Segue-se o hindu, que fala sobre os ciclos de sofrimento, o nascimento e a reencarnação e os ensinamentos de Krishna. Os participantes aplaudem e dizem: «Uau! Se isso é bom para ti, óptimo, pá!» Mas o padre dá um murro na mesa e afirma: «Não! Não se trata de ser bom para mim! É a palavra do Senhor, e quem não acredita está condenado ao inferno!» E todos exclamaram: Uau! Se isso é bom para ti, óptimo, pá!

quinta-feira, novembro 10, 2005

Crepúsculo


Ilhas Cies - Espanha

Recordo-te como eras no outono passado.
Eras a boina cinzenta e o coração em calma.
Nos teus olhos lutavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caíam na água da tua alma.

Fincada nos meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhiam a tua voz lenta e em calma.
Fogueira de estupor onde a minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre a minha alma.

Sinto viajar os teus olhos e é distante o outono:
boina cinzenta, voz de pássaro e coração de casa
para onde emigravam os meus profundos desejos
e caíam os meus beijos alegres como brasas.

Céu visto de um navio. Campo visto dos montes:
a lembrança é de luz, de fumo, de lago em calma!
Para lá dos teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam na tua alma

Pablo Neruda

terça-feira, novembro 08, 2005

Porque os outros...

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Porto, 1919-2004

segunda-feira, novembro 07, 2005

Gonzales - Solo Piano



Composições de uma simplicidade cativante!

sexta-feira, novembro 04, 2005

Dor

Ângela Rodrigues

Pode arder ou durar, mas nunca ambos...

Paradoxo

"Não tenho nada daquilo que quero para mim. Mas sou feliz! Porque, sempre que acordo, sei o que quero e olho por onde vou"

quinta-feira, novembro 03, 2005

Porque sim...

Se a Vida é uma dádiva de Deus, o desconhecimento da nossa despedida é a Sua benção.

Porém e decorrente da questão que denomina o Blog – e se não morrêssemos ?! – o conhecimento desta fatalidade perturba-nos. Esta é tão intrigante/revoltante quão maior é o conhecimento prévio que temos da nossa despedida: convenhamos que a antecipação da morte é pior que a própria morte.

Não será esta ansiedade uma vontade incontrolável de viver no Futuro? Afinal o que é que ele nos traz de positivo se à medida que avançamos aproximamo-nos do precipício?

Não deveríamos, então, viver o presente com toda a força, entrega e alegria?

Incerteza


San Brejo - Espanha


"só porque sou capaz de conceber uma existência gloriosa serei capaz de a realizar ?!"

Baudelaire

segunda-feira, outubro 31, 2005

Se

Se consegues manter a calma quando à tua volta todos a perdem e te culpam por isso.
Se consegues ter confiança em ti quando todos duvidam de ti e aceitas as suas dúvidas
Se consegues esperar sem te cansares por esperar ou caluniado não responderes com calúnias ou odiado não dares espaço ao ódio sem porém te fazeres demasiado bom ou falares cheio de conhecimentos

Se consegues sonhar sem fazeres dos sonhos teus mestres
Se consegues pensar sem fazeres dos pensamentos teus objectivos
Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota e tratares esses dois impostores do mesmo modo

Se consegues suportar a escuta das verdades que dizes distorcidas pelos que te querem ver cair em armadilhas ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida ficar destruído e reconstruíres tudo de novo com instrumentos gastos pelo tempo

Se consegues num único passo arriscar tudo o que conquistaste num lançamento de cara ou coroa, perderes e recomeçares de novo sem nunca suspirares palavras da tua perda.
Se consegues constringir o teu coração, nervos e força para te servirem na tua vez já depois de não existirem, e aguentares quando já nada tens em ti a não ser a vontade que te diz:"Aguenta-te!"
Se consegues falar para multidões e permaneceres com as tuas virtudes ou andares entre reis e pobres e agires naturalmente

Se nem inimigos ou amigos queridos te conseguirem ofender
Se todas as pessoas contam contigo mas nenhuma demasiado
Se consegues preencher cada minuto dando valor a todos os segundos que passam
Tua é a Terra e tudo o que nela existe e mais ainda, tu serás um Homem, meu filho!

Rudyard Kipling, Bombaim, 1936 – Londres,1865